O título deste texto é muito sugestivo porque são duas coisas que teoricamente não combinam.
Por quê? Qual a razão do medo ao dentista? Tenho algumas histórias de crianças que passaram pelo Pronto-socorro, entretanto vou contar uma delas que me marcou mais.
A criança tem quatro anos e todos os molares decíduos ou “dente de leite” como é conhecido, estavam com caries. Ela veio chorando de dor, não podia beber nem comer, nunca foi ao dentista e tinha começado a escovar os dentes há pouco tempo porque segundo os pais “não era hora ainda” e pior era sábado à noite e estavam voltando de uma viagem de caminhão do Rio de Janeiro e voltariam para lá na segunda feira.
A criança estava simplesmente exausta, irritadíssima, com fome e sono, chorando copiosamente, num lugar completamente novo, com uma pessoa vestida com roupas estranhas e máscara, que realmente assustam para quem não sabe que são “normativas da Vigilância Sanitária pelo covid-19”, e os pais, os dois por sinal, insistindo em que eu resolvesse o problema de todos os dentes nesse momento.
O que fazer com um caso desses? O que falar para esses pais? Que são negligentes com a criança? Ou devo ficar quieta e fazer o meu serviço? Ou talvez ensinar a escovar os dentes da criança? Ou talvez tirar uma radiografia? Mas como?
O desespero é grande porque você vê um ser humano, pequeno, sofrendo muito com uma dor que ele não sabe explicar, com uma dor que ele não entende, com uma dor que o deixa com fome e sono, com uma dor que não passa, e ao mesmo tempo tendo que lidar com dois pais inconsequentes que acham que porque é criança é mais fácil, o dente “vai cair mesmo, faça de qualquer jeito”.
Então nesta semana da criança, como presente para elas de o seu amor, respeito, cuidado, atenção e principalmente o seu tempo.
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Atenciosamente,